INCERTEZAS
INCERTEZAS
Sergio Pantoja Mendes
Sou fogo que se extigue na fogueira,
ou sou água, caindo em cachoeira?...
Sou a brasa final do último cigarro,
ou o frio do metal, gelo do carro?...
Sou quem sabe, a música que encanta e canta,
talvez a marcha fúnebre que toca e alguém pranta...
Sou o barulho de uma vida infernizada,
ou o silêncio agudo de uma madrugada?...
Quem pode dizer o que sou?... Se sou...
Sou a alegria do despertar do sol,
ou a tristeza do ocaso, ao me deitar sob o lençol?...
Sou as vezes o carro que corre pela rua,
as vezes a vítima, sobre a pedra nua...
Muitas vezes a nuvem clara do fim da tarde
e tantas vezes, a nuvem negra, anunciando a tempestade...
Diga alguém, o que sou!... Sou?...
Sou a rosa de Hiroshima, que Vinicius cantou,
ou sou a criança, que essa rosa matou?...
O travesti, com meu gesto afetado,
ou o amor da prostiputa, rápido e cobrado?...
Na incerteza de não saber quem ou o que sou,
quisera ser história da carochinha- rei, rainha e fada-
mas sou apenas pedra!... apenas pó!... somente nada!...