[O que a Boca não Grita]
[Uma hora destas, eu volto]
... ...
Por que deixar à conta do Acaso,
por que não roubar aos deuses
o prazer sarcástico da ceifa de mim?
Crio-me como se cria um porco:
— Para ser morto pela mão do tempo!
Há coisas sobre as quais me calo;
o clamor de antigos silêncios
pesa sobre mim com o clangor
do ferro das montanhas de Minas!
Ah, este desatino... Razões e semelhanças
vêm de lá, da Minas onde abri os olhos —
terra, terra minha — por que me lançaste
assim, nu, ao vento do desespero?
Um hausto profundo traga-me a voz;
assim, as palavras que a boca não grita,
escoam-me dos dedos — eu escrevo!
[Eu sei que sou fraco,
mas sou irremitente]
... ...
[Penas do Desterro, 12 de fevereiro de 1999 a 31 julho de 2011]
Excerto do Caderno 1 -