Cantos translúcidos
Vida sem rima
é vida sem rumo
temendo a estima
de todo esforço ser um demo
sem produção
assim acre, ocre, siena
incertamente sei
por onde caminho
no exterior
apoiado na frágil haste
das reminicências
das águas barrentas
da fome que venta
no ventre que inventa
mais uma vida
comovida
qualquer que seja
tal qual morte benfazeja
Minha saudade
— não sei se de outra encarnação —
bate como martelo
em minha caixa de ressonância
acho que é ânsia...
é ânsia...
Me confundo e afundo
pensando ser profundo
o mar em que me atolei
E eu que sei?
Se é que sei
É por aí que vou
Sabotando bússolas rapaces
seguindo minha indefinida voz
com a certeza de um instinto
ser mais um extinto
tão exato
como é minha momentânea ilusão
Cuspo fogo sobre as brasas do teu abraço
É a única coisa que faço
Antes que o abandono ao acaso
travestido de tempo
disfarce o contento que é o esquecer