Recuso ser bola cinzenta inanimada e fria
No cano de uma espingarda
Recuso ser a morte enviada por desígnio alheio
Pois me debato desde o instante primeiro
E escolhi com aferro a vida
Serei pólvora e não chumbo;
Serei raio determinado
Até ao momento do meu próprio crepúsculo
Seguirei discorrendo ainda que no perigo
Na aba do abismo; nas horas negras do espanto
Serei arco de aliança entre a terra e o céu
Fincar-me-ei mansa no olho do furacão
Serei remanso entre as Fúrias rodopiando
Retrocederei no tempo do fim para o início
Aplacando a angústia, pois nada temo
Atravessei tantas fronteiras exposta
Às laminas aguçadas e encobertas
Traço ponto por ponto a minha sina
Arriscada na palma da mão estendida
Impavidamente à espera da última queda
De onde ressurgirei nova seiva
Na infindável consumação da vida!