CARA SEM DISFARCES

A cara era sem disfarces.

A astúcia? Seu trâmite.

Propagava eficiência

sem precisar de artimanhas

nem quaisquer intrigas,

sequer uma palavra emitida.

(este era um seu recente dom)

Manifestava sua nobre arte

sem mostrar, que fosse,

a mínima ponta de língua.

Concretizava proezas

Sem o menor esforço.

Nem uma gota de suor.

Nem um gesto.

Nem um esboço de sorriso.

Sequer uma ameaça de tosse

escapava de seu impávido semblante.

Era uma magnífica estátua

sem nenhuma emoção distinguível.

Seu espetáculo não fora em vão.

Enfim ingressara no raro rol

dos indivíduos perfeitos.

Fora até lindamente homenageado

por todos os presentes

por dezenas de buquês de flores.

Ali estava ele.

O centro das atenções.

Deitado. Inerte ao esquife.

Impecavelmente trajado.

Magnificamente morto.

Aquele poço de exatidão.