A noite
Não quero dizer-te
que não és bela,
recheiada de luzes e de estrelas
porque,assim,
eu estaria blefando.
És magnífica,
se a lua e as estrelas
te embelezam.
És misteriosa,
ainda que as luzes dos postes
te iluminem.
Esse teu mistério
traz esperança aos namorados,
pela convenção do amor enebriante
que a penumbra ocasiona.
Esse teu mistério,
paradoxalmente,
encanta e amedronta.
Sob ti, a violência
encontra respaldo,
mesmo que não concordes com ela.
Sob ti, os crimes
são realizados,
os banais (se é que um crime pode ser banal),
os hediondos,
quew buscam tua escuridão
ou o estágio do sono
para concluirem sua tarefa macabra.
Tu és assim,
arisca e graciosa,
às vezes triste, às vezes esplendorosa,
excêntrica,fabulosa,
irradiando alegria
que contagia.
Ó noite,
que sobre nós
medre o teu lado de amor,
porque o da dor
precisa ser minimizado,extirpado,
para que o ser
seja contemplado
pela luz, pelo calor,
pelo prazer, pelo fervor.
Não deixes
que a doença, a depressão,
o suicídio, a ilusão
pertturbem a alma humana.
Traga a alegria pela canção
de amor ou de vivacidade,
expulsa do nosso peito
a escuridão e a saudade,
sem te encherwes de vaidade
que leva à perdição,
sem trazeres a insônia
ao cidadão.
Vem, ó noite,
e ouve o meu pedido
que brota do meu peito ferido,
por ver que o amor não impera ainda
em todos os corações.
Mas sei que, um dia,
a ferida que sangra a humanidade
com tua ajuda e solidariedade
um dia estancará.