o manjar das palavras
Manjar das palavras
Na estrebaria das palavras eu me retiro
Me confundo com os cegos
Vaga de palavras retiradas ao esquecimento
Forram um diario de encontros mudos
Sobem nas maos como fogueiras acesas
Atiçam as bestas dos caminhos
Corro atraz das palavras como andarilho
E procuro a cor
Procuro o sabor
Procuro a textura
Procuro a latitude
Ha palavras de linho e palavras de veludo
Ha palavras com luz e palavras com noite
Palavras com coiotes nos olhos
Palavras como pedras
E palavras com cintura de menina
Com palavras faço rios e madrugadas
Faço poentes e lua cheia
Com palavras me visto e me pinto
Com palavras resisto e escrevo
Num voo de passaros ao entardecer
Com palavras corro navego e paro
Com palavras subo às tempestades
E lanço as redes sobre a terra
Ha palavras nos teus olhos
Palavras nos teus ombros
Palavras por abrir como lilazes
Vem comigo
Vamos lutar pelas palavras do silencio
Palavras que trepam muros
Palavras que beijam as flores
Palavras para lá dos montes
Palavras em violinos
Palavras cósmicas
Que só os deuses podem escutar