SOMBRAS SOBRE O RIO

Um dia passa.
Chuvoso, o tempo infunde
em mim o sono.
Quero dormir,
mas não posso.
Pensamentos perturbam
o sossego,
e o medo se apossa
de meu momento.

Há sombras sobre o rio.
Sagrado, o silêncio
sussurra suas poesias
em meus ouvidos.
É a poesia do medo,
do desamparo,
da porta fechada.

Há sombras e há frio.
Visto a camisa
de quem não está vivo,
finjo-me de morto,
escrevo aleatoriamente.
Psicografo minhas palavras,
exponho (com que vergonha!)
as minhas falhas.

Há sombras, sim.
Mas a necessidade da luz
me acorda,
me desperta para o dia.
Além das nuvens, há o sol,
silencioso, sutil, sibilino.
Logo, o sol despirá o rio
desse manto de sombras.