Entre estações
 
Perdeste a hora meu amor
Desceste na estação invernal
Eu estava na plenitude da primavera
Tantos espaços entre as pontes
 
Perdeste o tempo do meu amor
Que se perdeu em horas vagas
No divagar dos instantes inertes
Em devaneios que se cristalizaram
 
Perdeste a ti no destino estranho
Concretizando-te no oco do silêncio
Entre voos em soturnos céus
Sem nenhuma réstia que te luziu
 
Perdeste tudo que te era agudo
Daquele grave acesso ao paraíso
Desceste ao opróbrio de ti mesmo
Foste digerido pelo teu vento gélido
 
Perdeste a ti entre altas copas
Não copulaste com tua alma infante
Sobraram a ti teus parcos restos
Em arestas em eternos arranhamentos
 
Perdendo-me, te perdi em comunhão
Se ora jazes afim ao teu nucléolo
Rezo-te a orla destas flores em festim
Num filete que soçobrou no teu inverno