OLHOS TRISTES
8Não perguntem o porquê dos meus olhos tristes,
Nem do silêncio morno que sempre me acompanha,
Meu olhar vive a buscar caminhos já empoeirados,
E minhas palavras já não fazem qualquer diferença.
Meus sonhos foram furtados em cada despedida,
E sempre os refiz às custas da minha solidão.
Partilhei tantos planos e os dividi nas esquinas,
Das encruzilhadas que a vida tanto me aprontou,
Resta então o silêncio das lembranças tortas,
Que somente meu isolamento mórbido endireita,
E somente meus olhos inertes são capazes de refazer.
As histórias que tenho para contar são tão longas,
Que somente minha paciência é capaz de escutar,
O que aprendi nas estradas virou mera filosofia,
Que os interesses apressados sempre a julgam vã,
Mas eu rio sim, das graças do meu viver sem graça,
Aos olhos incultos dos bobos barulhentos fanfarrões.
Meu silêncio é morno sim, mas sempre aconchegante,
Melhor que o calor efêmero das labaredas de palha,
Feito promessas vagas que até as brisas varrem,
Exatamente como as tantas que me foram enunciadas,
E que meu silêncio recorda, meus olhos ainda avistam,
E me fazem assim aparentemente triste e melancólico,
Mas que somente traduzem a reflexão do meu saber.