Coisa com coisa
Não sei se são frases somente,
Se serão poesias eternas
Se serão lamentos reincidentes...
Ou sei lá, se serão gritos no deserto...
Não sei se grito, se falo, e falo e falo muito
Se reclamo, se choro, se escrevo
Se durmo para sonhar qualquer coisa
Se me lamento, amedronto-me
Ou se fico inerte olhando para lugar nenhum..
Esta veia intransigente de poesia
Que, inconveniente, quer transformar toda dor
Todo o sofrimento em arte...
Parece que para perpetuar o auge do clamor..
Sei que por fora tento ser forte
Mas por dentro, sou eu mesmo...
Que por mais que ande, ande e ande,
Sempre encontra um espelho
Que força reconhecer-me, a mim mesmo...
As palavras, estas, foram embora
Desistiram de servirem-me de travesseiro
Para meus lamentos... sentem-se usadas
e abusadas... por isso se foram..
Restou o sentimento inquieto,
Que não conforma-se em ficar inerte..
Esperando a tempestade findar...
A coerência dos escritos não está à mostra
Surge somente em mim mesmo, como código
criptografado que interessa somente a quem de direito..
Que se vão os que nunca vieram
Que fujam desculpando-se e apressados
Os que jamais me quiseram
De meu lugar somente a retreta dos pássaros
Entretém o meu isolamento,
Ainda bem que não dá para arranjar no
Violão o que ouço as aves cantarem.
Assim acalento mais a solidão
Para esbaldar-me no sofrimento
E dar razão ao discurso esquizofrênico
Que venho, há algum tempo, construindo.