Jogo da Vida
Alguém vai se incomodar
Se eu continuar maculando o papel
Com as palavras venenosas do meu interior
Impregnadas com o veneno
Das frustrações e injustiças
Que fui incapaz de combater?
Alguém vai entender
Se por acaso arriscar-se a ler
Mesmo sabendo que o veneno
Pode acabar espirrando em seus olhos
Trazendo ao invés da cegueira
A visão de coisas que não deveriam ser vistas?
Alguém ainda se importa
Em desvendar enigmas?
Ou as correntes do cotidiano previsível
Finalmente atingiram a plenitude de seu objetivo?
Não sei se ainda há algo pelo que lutar
Mas eu quero lutar pelas poucas coisas
Que ainda são importantes
E pelos poucos sorrisos
Que ainda animam uma alma gelada
Há dias em que tudo parece errado
E há anos em que esses dias parecem ser maioria
Há momentos em que as lágrimas
Parecem ter mais sentido que os risos
Mas como o riso ainda existe
O resto acaba fazendo sentido, de alguma forma
É engraçado como quanto mais se entende as coisas
Mais se percebe o quão pouco é preciso entender
Para que a vida seja boa
Não são os melhores momentos
Fruto das mais estranhas coincidências?
Não são os melhores resultados
Aqueles que saíram do planejado?
Pode-se planejar e atingir o “muito bom”
Mas o “ótimo” é sempre o inesperado
E às vezes o que era veneno
Acaba se tornando mais doce
Do que aquilo que se conhece por açúcar
Nem sempre os enigmas trazem boas respostas
Mas o divertido está na charada
E disso a vida tem de sobra
Para os que se dignam a observar
Talvez meus olhos estejam fora de foco
Mas com eles, vejo uma imensidão infinita
E não consigo pensar em sua amplitude
Sem perder parte da sanidade
Eu não sei para onde vou
Contudo, estranhamente, não me incomodo
Estou aqui agora
E sei que isso não é apenas um teatro de fantoches
No qual algum mestre das marionetes
Escalou-me como protagonista
Pode ser que o que eu faça não renda aplausos
Mas trará consequências
Afetará um pouquinho essa imensidão infinita
E talvez possa ser no sentido positivo
Se eu me esforçar um pouquinho mais
Não posso prever o futuro
Nem me livrar do passado
Mas é bom que nem tudo esteja sob controle
Pois não confio em mim para guiar tudo
Minhas palavras continuam sendo nada além de enigmas
Que eu talvez até consiga desvendar
Embora seja incapaz de decodificar a resposta
Para que mais alguém compreenda
Alguém entenderia quão irônico é
Estar presa dentro de mim mesma
Em um mundo de imensidão infinita?
A alma impulsiona e aprisiona
A vida oferece e tira
E não se pode obter sem abrir mão
Pois essa é a lei da escolha
Se tudo é um mistério
Conhecimento é perigoso
Pois liberta e enlouquece ao mesmo tempo
Nada é tão simples quanto parece
Ou tão complicado como fazemos parecer
A vida pode não ser um teatro
Mas certamente é um jogo
A diferença é que somos nós que lançamos os dados
E ninguém pode fazê-lo em nosso lugar