Ruas do Mundo
há uma rua
em Paris
onde a lua pari
um sorriso amarelo
e os homens
em farelo
ficam
a jogarem cartas
e a olharem
as estátuas
dos poetas e filósofos
enquanto
aos cantos
há casais que copulam
ao som
de saxofones que furam
com dor
os ouvidos das velhas
que passam
fazendo o sinal da cruz
pelo horror
que consideram
as volúpias
outrora sob telhas
e agora
na escuta
para todos verem
e não sentirem culpa...
as mulhres nuas
dançam
iluminadas:
retalhos vermelhos-
transparente
e suas
vaginas a mostra
sob a luzes dos postes
coloniais
e há também trans-
poetas-
sexuais
que sentem
membros e ejaculadas
nas escadas
dos sobrados
onde há sado
masoquismo e fetichismo
e satanismo
e outros ísmos
de enciclopédias
do ocultismo
da idade média
e das mitologias
que os jovens arrebatam
sob pensamentos liberais
e as orgias
intelectuais
físicas e anais
enquanto suas mães
passam
vindas da missa
com seus cabelos esvoaçados
e a premissa
de que seus meninos e meninas
serão criados
no evangelho de seus pais
com cabresto,
mas não sabem jamais
que praticam incesto
quando se sentem
enjaulados
sob o cesto
da moralidade
há outra rua em Amsterdã
onde as crianças
conhece Satã
muito cedo
e o contrastes de suas vidas
que é o medo
some com as picadas
das seringas
e a fumaça da maconha
que agora remédio
mas outrora medonha
está para todos
assim como a poesia
barata e cantada
com rimas vazias
está para as massas:
pessoas vazias
que esperam fantasias
e acreditam no amor
que outrora mataram
sem sentirem dor
e pena
e ainda há mais duas
que é uma no Rio
e a outra tem cio
e é em São Paulo:
bom,
nessas eu não preciso dizer
o quê os sons
estão por fazer;
que há palcos
de meninos descalços
mendigos sem talcos
e bebês esquecidos
e prostíbulos lembrados
e pedras vendidas
e a polícia vendida
e a vida esquecida
e a lida escondida
e a política também
e as bocas-de-fumo
que são os haréns
das pessoas sem rumos
das pessoas sem prumo
com seus túmulos
já feitos
numa favela de becos
e barracos estreitos:
algum cativeiro
com um largo empresário
a pagarem seus pecados
de sonegações
e abusos sexuais
com a menina
de seios crus
e o rapaz
que deu
o cúmulo
de satisfação
no escritório,
só tem dezesseis anos
mas já está no portfólio
das aberrações jornalísticas