A INSPIRAÇÃO E O POETA
Quando mergulho na inspiração
Sou artista principal ou figurante
Nobre e plebeu, falcão em pleno vôo
Pro mundo literário trago real e imaginário
Transformo burguês em proletário
Brigo por donzelas e maltrato corações
Procuro fazer da folha vazia meu esconderijo
Com rabiscos costuro fantasias
Desfilo no papel os meus modelitos
Retirados do guarda-roupas da memória
Modelados com retalhos de real e abstrato
Tudo que foi fotografado com lentes de aumento
É transformado em matéria-prima
Pequenos flexes compõem lindas fotos
Decoro toda a morada do meu Ser
Revisto todas as paredes com palavras
sem nexo, que um dia farão sentido, darão rumo
Sem inspiração me sinto vazio
Sinto apenas o gosto do concreto
Apenas o cheiro da fumaça, materializada em meu nariz
Torno-me impessoal, apenas mais um na via pública
Fico cego quando não tateio a ilusão
Saliva seca e o chão rachado na imensidão
Quando volta a inspiração
Sou super-herói girando a terra...
...no sentido anti-horário
Tenho o poder de colorir meus dias
Puxar a lua sempre cheia pra perto do meu bem
Colocar no rosto do próximo o sorriso amistoso de outrora.