DESEJO X desejo

Porque o desejo é rutilância

Ingrata, discrepante...

Antes,

Angústia beligerante

Cheia de dúvidas e reentrâncias

E que estância essa, tão desumana

Coabitada de insustentáveis nuances?

Porque desejo é inconstância

Caricata e lancinante

Fogo de ressequir

O frescor das fontes

Águas quantas a suprimir o ar,

A entupir de sal do mar

As pobres glotes

Das sequiosas gargantas...

O meu desejo é queda

Que, ao solo, jamais desmonta

Hálito que nem a aguda falta

De alento repousa, decanta

Mais me encanta, qual um solavanco

Que nocauteia o senso

Do tenso seio do meu colo...

Sua língua lasciva beija-me

A boca indecisa

Que, inculta cedência,

Engole o arroubo

Tal fora farfalha de brisa...

Mas meu desejo é um fartar

Que não se aprochega!

... E se despeja

Qual praga negra

N’uma apetência

De infinita fome...

... E se converte d'um desrumo vazio

Que contrariado, desgostoso,

De singular fúria,

Me afoga e me consome...

(Desejo é o cerne do homem?)