BORDADO DE LUCIDEZ
Pelo lustre do teto
Derribou bordado de lucidez
Mentecapto e supra-humano
A esgarçar-me em luz a tez...
Foi aí que endoideci d'um deus
Desalojado do breu da cama
Das meias brancas,
Das listras vagas do pijama...
Adejei os deificados olhos
Além-ferrolhos da janela
E bem-fadei o espólio
Do imbróglio da minha cidadela
E o céu soturno se incorporou
Em tantos netunos e saturnos
D’um véu lilás a desverde
Como um corcel trotando o lume...
Rente à terra, destrambelharam
Telhas e edifícios, quanto paredes
Desfiando um desaprumo de escarcéu...
Essa santa insânia ilustrada
Encheu a paz de eus
E não pude mais ver-me humano
Nem menos capaz
Do que um anjo contumaz
A brincar na sede
De perder-se
N’uma nuvem de delírio
Tão eterna quanto fugaz...