Ruínas
Você olha para a paisagem atrás de si
É apenas um castelo em ruínas
Que pode desabar a qualquer momento
Você suspira, embargado pelas memórias
Da fortaleza que um dia foi sua
Não é como se não houvesse se esforçado o bastante
Não é como se pudesse tê-lo evitado
É apenas que o castelo pertence ao passado
E você, ao presente
Que cedo ou tarde o conduzirá ao futuro
Não é como se pudesse ter feito mais
É apenas que nem sempre a vitória
É o que nos concede mais força
E o amanhã ainda surgirá
Mesmo que não haja mais castelo
Não é como se um sonho houvesse morrido
É apenas um momento da realidade
Chegando ao seu fim
E dando lugar a algum outro
Que ainda não conhecemos muito bem
É só a Terra girando outra vez
Nem sempre mais lenta que nossos pensamentos
E compreensões
Embora nunca altere seu ritmo
Às vezes, os castelos precisam ruir
Para que não ocultemos de nós mesmos as rachaduras
E nos esforcemos por uma perfeição utópica
Nem sempre permanecer na luta
É o mais sábio a fazer
E se há alguma coragem em proteger ruínas
Talvez esta seja superada pela tolice
E a única maneira de proteger o que já se foi
É guardando sua memória
E não iludindo-nos como se não houvesse ocorrido
O passado é útil como passado
Mas é por motivos justos que não se incorpora ao presente
Que tem suas próprias dinâmicas
Ainda que não surja alheio às heranças passadas
Às vezes, uma realidade precisa cair
Para que se perceba quantas ilusões
Mesclavam-se em seu alicerce
Mas os sonhos, esses não precisam ruir
Mesclar-se-ão à nova realidade
E encontrarão uma forma de a ela pertencer
Mesmo que para isso mudem um pouco sua forma
Pois mesmo o que dura para sempre
Não permanece igual
Pouco adiantará verter lágrimas
Pois as ruínas do castelo não durarão muito mais
E se mantê-lo vivo por todo esse tempo
Consumiu esforço o bastante
Para que não saiba o que fazer agora
Não faça nada
Descanse sua mente e respire fundo
Pois antes de qualquer coisa
É preciso reencontrar a si mesmo