A quem deixarei
tudo o que amei,
todo meu sentimento
em alguns objetos,
nada de bom valor,
exceto, talvez, pelo afeto
que neles eu depositei?
De vinil, mil discos
com poucos riscos,
e a vitrola conservada;
alguns livros amados
(verdade que grifados)
pois os demais já doei.
Alguns antigos retratos,
de tantos antepassados,
e quatro móveis comprados
num antiquado brechó,
formosos como eles só.
Um anel de ouro em 'esse'
que nunca tiro do dedo,
recebido no nascimento
da filha tão esperada!
Um tesouro pequeno:
enfeites/cartas/presentes
que só o coração sente
num vasto universo
onde só conta o dindim,
ai, ai, pobre de mim,
até sinto um pouco de medo
pois este não tenho.Que pena!
Mas não façam cena...
E vão ter que se desfazer
(desejo que sem zanga)
de cento e um cadernos,
algumas roupas de inverno
e muita bugiganga...
Porém, a todos deixarei
o meu claro pensamento
(retido e contido)
nos meus amados versos -
honrando este Testamento!
Silvia Regina Costa Lima
15 de maio de 2011