AMADURECIMENTO
É chegado um tempo
Em que a mente alarga os patamares das buscas
Procura por outros sentidos
Já não se abastece do que é sabido, nem conhecido
Tudo vira futilidade e um leve desilusão vai cobrindo tudo
É o fim das mistificações e a brutal consciência do desengano
É a fase final da materialidade absurda
Sem que isto signifique esperança e crescimento
Então é tempo de quebrar as estruturas do pensar
De enveredar a mente por caminhos novos
Abrir as percepções,
Olhar com outros olhos para as mesmas coisas
E não ver as mesmas coisas
Balançar as estruturas das velhas convicções
Mesmo que depois nos escondamos no alheamento
Já que nada se passa sem a presença da dor
Esta fase, vem sempre depois da depressão pendurar nossas
Certezas sob o sol e nos desencantar de vez
É quando nosso céu se enche de dúvidas
E a essência das coisas parece querer boiar no lago da consciência
Descobrimos que a certeza era apenas um produto da convicção
Porque estas estarão todas mortas
Há agora vários horizontes a nossa frente e nenhum caminho conhecido
Antes haviam menos escolhas
Queríamos a prosperidade, o sol, o desejo, o borbulhar da vida
Estávamos eternamente em construção
Aos olhos dos outros e aos nossos olhos também
Agora sabemos que o tempo desconstrói tudo
Somos um elo perdido em busca de alguma definição
Porque agora é o jogo do ser
E ser é difícil porque é imperceptível, não é mensurável
Porque somos o lume não a estrela
Somos um processo indeterminado
Que nunca terminará
E seguirá assim até sermos cobertos, finalmente
Pelo escuro do fim.