SINESTÉSICA
Eu sou negro por dentro.
O meu corpo é opaco;
pelo menos eu pensava isso
enquanto ainda
não tinha pensado nisso.
Sou negro por dentro
ainda mais
quando fecho os olhos
e vejo luz
com o fundo dos meus olhos
que eu nem sabia
que enxergavam tanto.
Aí sim,
eu vejo o quanto
de opaco
eu nada tenho!...
aí sim,
eu vejo luz...
E tenho uma sensação
tão gostosa
de ver que vejo coisas
de um outro jeito
que descobri agora
fechando os olhos.
Sinto - (me)
como uma pedra
que respira
e ouve e vê.
E na maneira diferente
de ver
que descobri agora
não vejo cores
- só tudo muito escuro
e claro!
É sim...
pensamentos não têm cor
- experimenta!
fecha os teus olhos...
Sente...
essa sensação
de não ver cores
como uma pedra
que respira
e não vê.
Amarelo, azul, vermelho,
lilás, verde, carmim
e por aí vai;
côres definitivamente
é coisa dos homens
- do lado de fora.
- não é coisa das pedras
que respiram...
(Ao ler o poema NEGRA de Lilian Maial).