NÃO PERCEBO
À minha peculiar forma de estar e que leva tanta gente a não compreender certas atitudes minhas…
NÃO PERCEBO
Ou há algo em mim
Que não me deixa perceber
Aquilo que faço
Ou que deixo de fazer
Não percebo
Um Deus
Que tentei ouvir
Sentir
Até à exaustão
Não lhe pedi nada a não ser alegria
E ele deu-me tristezas
E uma enorme desilusão
Sendo por isso que o abandonei
E que deixo a minha sorte
Às estrelas sem nome
À imensidão
Não percebo
O jogo das palavras cruzadas
E de xadrez
Que faço com quem estimo
Jogando eu
Nas alturas erradas
Com as regras trocadas
E quando não é
A minha vez
Não percebo
Preciso por vezes
De silêncio
Mas há sempre
Mais uma música para ouvir
Ou novidades
E palavras a escutar
Sendo
A ausência de tudo
Água num oásis
Que na ânsia de a beber
A estou
Antes de lá chegar
A secar
Não percebo
Que até entendo o português sensorial
E escrito
Mas na minha dislexia existencial
Tudo baralho
E de repente
Dou comigo cercado
Num
Terrível labirinto
Não percebo
Esse caminho sensorial
Que leva a um beijo
Ou pelo menos
A um abraço
Ou sequer um carinho
Algo de fundamental
A tentar
Fazer
Furar o cerco
Do meu Palácio de Gelo
Que eu próprio criei
Chamei o adversário
E em posição de fraqueza
Ditei as minhas Leis
Que valem
O poder de uma ilusão
O cerco mantém-se
Sendo o irónico
Eu ter as chaves
Da porta
Da minha reclusão
Anseio por lutar
Mas estou cansado
E devia
No meu leito de estrelas
Descansar
Preciso desesperadamente de respirar
E tenho
Aqui tão perto o ar
Mas
Sei e não sei como lá chegar
Anseio por estimar
Mas na sobrecarga de afectos
Acabo
Quase sempre
Essas pessoas por afastar
Não percebo...