Mefisto

Quem sou eu? Aonde vou? Que é a vida?

Fechado em meu palácio futurista,

A estrada afora perde-se de vista

E a minha viagem é sempre preterida.

Eu sou um louco, um Fausto, um epicurista,

A colorir de ócio as minhas horas.

Nada quero, não almejo uma conquista,

Escarneço de todas as vitórias.

Um palhaço, um bobo, um materialista,

A rir do mundo e suas vãs quimeras,

Minha alma perde-se através das eras

E o meu corpo de si mesmo dista.

Minha consciência, diz meu analista,

É dual, cheia de ocas contradições.

Mas, cá pra nós (falo com meus botões),

Ele sim é o doente e eu um artista.

Um paranóico, um místico, um budista,

Ando à procura de um calmo nirvana,

Onde, longe da natureza humana,

Eu me eterize sem deixar uma pista.

Palhaço de circo, malabarista,

Vivo sempre em cima da corda bamba.

Minha vida pouco a pouco descamba,

E eu danço samba porque sou autista.

Talvez um mago, um cego, um ilusionista,

Eu não existo, nem você, leitor.

Sei que é difícil, mas olhe ao redor:

Nada comprova que você exista...

Nem o poema é real, foge na crista

Desta página escrita por um louco.

Veja bem, ele se apaga pouco a pouco,

Deixando um bilhete de adeus: “Hasta la vista!”

Vagner Rossi
Enviado por Vagner Rossi em 07/05/2011
Código do texto: T2955346
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