Dois mil novecentos e sessenta-e-poemas jogados no lixo
E na noite que não era muito escura, estava o “que ninguém nunca via” – como a ele chamavam os vizinhos, sem, claro, o conhecimento dele – curvado sobre uma mesa abarrotada cuja cor nem se via, pois, de papel estava blindada. Daqueles pedacinhos de folha de livros e agendas; costumava escrever em qualquer lugar a sua inspiração repentina, para, chegado em casa, juntar num de seus poemas. Muitas destas anotações viravam lixo, outras viravam poemas, outras eram curtas demais para virarem poemas, então estas, ele tentava encaixar num dos poemas. Repetia várias vezes o mesmo verso para ver sua sonoridade e significância, por vezes não conseguia as perceber, estes versos eram os que iam para o lixo.