O POETA ENTRA MUDO E SAI CALADO

Assisto a um poeta

Entrar mudo e sair calado.

Nada neste seu mundo

Irá diminuir-lhe

O enfado

De falar

O poeta só diz

o absolutamente

desnecessário...

Ainda assim, diz mudo

: Uma mudez

A gesticular pelos cotovelos

A escapar-lhe em segredos

A cair-lhe ao colo

Inundando-lhe olhos, titilando os dedos...

O poeta é seu próprio algoz

Da calada da voz

Noz incorrupta...

Fera feroz em guardar palavras

Em seu novelo desmazelado

De ainda mais embaraçar

O tecido das próprias rimas...