O POETA: UM FINGIDOR?
Diz Pessoa que o poeta é um fingidor
Que a tudo pode fingir
E finge de verdade o que é verdade
E de mentira o que não se sabe
Mas o que não se sabe
É se finge sempre o poeta
Ou se finge o leitor
Crendo sempre que o poeta
É sempre um fingidor
Ou se quem finge não é quem escreve
Mas quem finge pode ser leitor
Porque finge que acredita
E acredita que finge
Acreditar no fingimento do poeta
Que nem sempre acredita que finge...
O poeta: um fingidor?
Mas não é a poesia
Ou todo que se escreve
Um sentimento de dor?
Ou uma chave para o amor?
Não seria da poesia ofertada
Uma fina e bela melodia?
Poderia fingir o poeta
Um amor que não finge
Mas sente e de verdade
Não mente
E diz o que sente?
O poeta também é um “sentidor”
Fala da dor
E escreve o amor
Oferta uma poesia
Como se fosse uma flor
À flor que ele ama
Ou sente uma dor de amor
Seria o poeta um fingidor?
Se deveras escreve
O que sente no labor
De uma vida que tem
Da poética mais além
Que ri e chora
Faz e desfaz
E ama também?
De tanto fingir
O poeta não sabe
Se o amor que sente
É amor de verdade
E vão-se perdendo amores
E vão-se ganhando dores
Que deveras sente
Sem fingir somente
Mas o poeta é um fingidor?
Porque agora finge da dor
Que agora deveras sente
Mas não se faz inocente
Do que dele conta tomou
Que foi se apaixonar pela dona
Dos versos que a ele inspirou