Do meu Baú de Guardados (Reflexões Abstratas)
Sombras vãs dançando no espaço,
momento de brisa perpassando a alma,
sutilíssima dor do longínquo eu...
Fito-me no espelho do inconsciente
e o que sou e o que não sou
sorri-me com uma gelada ironia
de quem sabe que não existe tempo
nem fuga possível à alma atormentada
pelo vácuo fenomenal do Nada.
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O fim do homem é prosseguir somente,
E projetar sua sombra sobre o asfalto,
E deixar passos sobre o chão ardente.
É chegar além, a um reino distante,
É gritar, gritar e gritar bem alto
Uma canção geral e itinerante...
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Procurar o espaço imenso
que me antagoniza,
quebrar os laços do absoluto,
desfazer as cordas do estabelecido,
ser eu mesmo presença e névoa
traduzidas em palavras
que habitam o trovão
e relampejar o novo
no céu da Incógnita.
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Sim, eu respondo às cinzas,
sou carne e lepra ungidas
pelo sopro do mendigo,
perco-me em inefáveis epifanias
em que presentifico o Ser & o Tempo,
crio aparições silenciosas,
cumpro a missão tácita,
bebo no cálice dos supliciados
e traduzo a língua dos pássaros.
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Lanço meu silêncio às árvores
e danço nas sombras do imperceptível,
até o momento horizontal em que se expande
o fio imponderável que liga aqui à
imutável esfera
onde tudo se personifica.
Converso com as paredes,
as cores me agridem nas paisagens,
conheço os mistérios do vento,
beijo os lábios da aurora
e acordo molhado de sóis,
varado de infinitas manhãs
que oscilam
na crista das ondas universais
do vir-a-ser.
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Danço sobre a miragem,
bailarino do ar,
suponho minha existência
configurada e explícita
apenas uma queda,
teço lógicas inerentes à forma,
estudo e deponho meu ser sobre a mesa,
eu inconsciente,
sempre o mesmo ausente.
Toda existência é queda,
de uma forma ou de outra,
todo beijo aniquila,
a presença da morte
traz a delicadeza e o grito
exasperado da pedra,
toda vida é um fim em si,
toda morte é um além de...
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Se de um lado me perco,
do outro me encontro
- eu diante do todo,
porém, desfigurado
pelas partes similares.
Prefiguro geometrias idílicas,
amasso as arestas, provoco
a suserania dos ângulos,
agrido a limpidez das formas,
sublinho triângulos eqüiláteros
e circulo o obtuso agudo,
onde enfim calculo
a hipotemusa dos zeros
que me somam em muitos.
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É preciso ser forte ante
a presciência,
erguer a voz pálida
contra os temporais
que arrastam lógicas nefastas,
é preciso estar preparado
para o iníquo golpe do imarcescível.
Pois sim que o tempo nos garanta
certa retórica melíflua
que nos alimente de esperanças
e outras ilusões precisas,
mas nós nos colocamos
como ode de vendavais
num ergástulo de sangue
para expulsar das esferas sem parâmetros
os fantasmas hediondos da autocomiseração.
Sim, somos os pastores da oblíqua chama!
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A vida me concebe,
bebo à ela e à beleza.
É preciso estar bêbado,
Baudelaire já disse.
Bebo um copo de poesia
e jogo pro santo a virtude.
Vagner Rossi