Vejo a multidão
Vejo os passos apressados da multidão
São pessoas atarefadas, atrasadas
Sem tempo
Sem disposição
Nenhum minuto sequer
Para acariciar uma criança
Estender a mão ao caído
Atravessar um cego na rua
Vejo as pessoas tensas na multidão
São figuras automatas, solitárias
Sem gentileza
Pouco ou nenhum amor
Nenhum respeito sequer
Para prestar ajuda ao vizinho
Cumprimentar estranhos no caminho
Agradecer pelo dom da vida
Vejo que não há idosos na multidão
Estão recolhidos
Em velhos quartos esquecidos
Hospitais, casebres, asilos
Em abrigos deprimidos
Refugo de uma sociedade esteta
Ocidente
Templo da juventude e beleza
Vejo as pessoas envelhecendo na multidão
São pessoas perdidas
Vazias
Abandonadas
Esquecidas
Deprimidas
Pouca esperança
Nem sinal de fé