No trono

Eu estou no trono

Organizo meu pensamento

E aqui neste momento

Me sinto um sem-dono

Se é sentado aqui

Que me vem a distração

Penso num sermão

Que poderia dar a alguém

Mas quem ouviria este endêmico

Que por falta do que fazer

Se propõe a sentar e escrever

Num mero rolo de papel higiênico?

Ah, tem muita gente

Que gosta de ver porcaria

Mesmo feita com maestria

Não passa de uma merda

Pois agora já tenho meu leitor

Esse que está também sentado

Não, como eu, retorcendo de dor

Mas o que está aí do lado

Vou escrever besteira pra você

Se acostume com rimas de banheiro

Pois tu vai ser o meu primeiro

A ler do meu papel (higiênico)

Eu te escrevo assiado

Eu sei que não parece

Mas estou higienizado

Sei que isso te entristece

Nem toda poesia de trono é suja

Da pra lavar até sair algo bom

Na pia com água sanitária, dá o tom

Para este texto sem conjuntura

Uma estrofe sai redonda

A outra sai quebrada

Quando cai na água, estronda

E minha poupança sai molhada

Que posso eu fazer

Se aqui no trono me inspiro?

Penso, canto e suspiro

E finalizo com a descarga.

Walter Gandarella
Enviado por Walter Gandarella em 19/04/2011
Código do texto: T2917459
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.