No trono
Eu estou no trono
Organizo meu pensamento
E aqui neste momento
Me sinto um sem-dono
Se é sentado aqui
Que me vem a distração
Penso num sermão
Que poderia dar a alguém
Mas quem ouviria este endêmico
Que por falta do que fazer
Se propõe a sentar e escrever
Num mero rolo de papel higiênico?
Ah, tem muita gente
Que gosta de ver porcaria
Mesmo feita com maestria
Não passa de uma merda
Pois agora já tenho meu leitor
Esse que está também sentado
Não, como eu, retorcendo de dor
Mas o que está aí do lado
Vou escrever besteira pra você
Se acostume com rimas de banheiro
Pois tu vai ser o meu primeiro
A ler do meu papel (higiênico)
Eu te escrevo assiado
Eu sei que não parece
Mas estou higienizado
Sei que isso te entristece
Nem toda poesia de trono é suja
Da pra lavar até sair algo bom
Na pia com água sanitária, dá o tom
Para este texto sem conjuntura
Uma estrofe sai redonda
A outra sai quebrada
Quando cai na água, estronda
E minha poupança sai molhada
Que posso eu fazer
Se aqui no trono me inspiro?
Penso, canto e suspiro
E finalizo com a descarga.