Foi por esses dias que estive de frente para ele
O poema que há muito prometia ser o último
Adejava sobre a superfície absoluta do silêncio
Lançava palavras no abismo dos esquecimentos
Em mim misturava versos ainda não nascidos
E sangrava lirismos de uns tempos idos
Outrora diria tantas coisas de antanho
Agora nada diz sobre o depois
 
Seria um poema de abandono das vontades
Ou de despedida de qualquer dura realidade
Quis agarrá-lo pelo rabo de uma rima
Pela crina de sua necessidade de me calar
E montar em seu dorso de um desejo de me levar
Aonde houvesse somente silêncio e esquecimentos
 
Mas me quer ainda sem calar o que ainda nem disse
E me foge justamente por ser o último que eu diria
O último a ser parido sem desejo pela poesia
Depois disso nada mais se teria para dizer
Sobre a morte ou a vida, ou sobre o amor
Sobre a tristeza, sobre a solidão ou sua dor
Nem sobre qualquer saudade que permanece
Porque há de haver ainda muito que se dizer
Mas o último poema a poesia esquece


Jaboticabal-SP, em 13/04/2011 - 18:46
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 13/04/2011
Reeditado em 26/05/2021
Código do texto: T2907380
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