Divagações
Por que tenho que olhar em seus olhos
Se não tenho as respostas?
Por que tenho que ficar e encará-lo
Se ainda não há nada a dizer?
Sei que não posso fugir
Mas deixe-me apenas reagrupar os exércitos de ideias
E voltar à batalha quando puder atacar
Dilemas insolúveis me atormentam
Complexos, inevitáveis
E me roubam as forças
Sentimentos há muito adormecidos retornam
Como feras famintas
Que não sei com o que alimentar
Estou perdida
Mas não se importe muito
É só a solidão de quem não tem ninguém para abraçar
É só o sentimento de que tudo vai passar
E por isso mesmo não adianta se apegar a nada
É só o vazio de quem consegue esquecer tudo
E pelo mesmo motivo é incapaz de lembrar de nada
Por enquanto, não irei a lugar nenhum
Presa às perguntas sem respostas
Ainda fraca demais para vencê-las
Mas obstinada demais para desistir
Se eu dormir um pouco agora
Elas ainda estarão ali
Do mesmo jeito que sempre estiveram
Não é como se estivesse fugindo
Apenas espero uma breve trégua
Um instante para estancar o sangue
Antes do que pode ser a batalha final
O vento e as árvores me observam
Como se tivessem as respostas
Mas não quisessem ofertá-las a mim
Por que a vida deles parece tão simples
Enquanto preciso continuar a lutar?
Poderia eu também ser simples
Ou isso é apenas um desejo advindo do cansaço?
Eu costumava querer mais que carregar as folhas
Ou fazer sombra aos passantes
Porém, agora, o que quero afinal?
Serei capaz de responder mais essa pergunta?
Serei capaz de perseguir sua resposta
Qualquer que seja?
O caminho é longo e minhas asas quebraram
Sei que nunca mais poderei voar
Para onde quer que pretenda ir
Terá que ser com minhas próprias pernas
Não tenho mais a fantasia como aliada
E minha guerra ocorre no mundo real
Não importa quantas metáforas eu use
As respostas finais terão de ser denotativas
E não estou preparada para me despedir das fadas
Sou forte em meu mundo
Do qual sempre serei a rainha
Mas neste aqui não posso ditar as regras
Só o que tenho a fazer
É tentar incutir pequenas mudanças
Nem tudo ocorre na velocidade da luz
Não importa quantos universos encontremos
Haverá sempre tartarugas e lebres
E a paciência nunca se tornará obsoleta
Não importa quantos elementos sejam descobertos
Corações continuarão sendo de carne e sangue
Tão fáceis de ser rasgados
Impossíveis de ser consertados
Não importa para quão longe formos
Não poderemos escapar de certas perguntas
Encontrando ou não suas respostas
Não importa quantos instrumentos construamos
Na tentativa de parecermos mais fortes
Continuaremos capazes de nos ferir
E nem sempre teremos armaduras
Atrás das quais nos esconder
Enquanto a Terra anda em círculos há milhões de anos
Seremos capazes de deixar nosso próprio ciclo interno
E ir mais além?