O ABRAÇO DA MORTE

É impossível esquecer aquelas manhãs e tardes,
Os afagos em meu rosto e a voz suave e firme,
Os braços que tantas vezes embalaram meus sonhos,
E onde tantas vezes me confortei em segurança.

Agora é fim do dia. O cansaço da jornada
Se lhe apresenta nos traços acentuados das rugas,
A se perfilarem pelo corpo que se desfinha.
Na cabeça, os pensamentos estão perdidos
Em sonhos que não mais se realizarão.

Ao descanso eterno, antecede grande sofrimento.
O frio aço de minha lâmina tornou-se quente
Como os fogos a arderem no reino de Hades,
E meu escudo está fortemente projetado
Para a batalha que não pode será vencida.

Nunca provei tamanha dor a me consumir!
Da morte ainda não havia sentido presença tão infame
Em cheiro pútrido a comer das entranhas da mulher,
Que me deu a vida, em amor incondicional.

Pudera trazer-me tal chaga e livrar-lhe da tristeza,
Da insegurança do porvir, projetado nas pragmáticas orações,
Do abandono e da solidão que em alma se lhe assentam,
Pois ninguém se deita em companhia para o sonho da morte.

Noite fria, nos rostos, assombro e persistentes lágrimas.
Em mim, um vazio inigualável pela perda iminente,
Da mulher que me gerou e que agora não posso proteger
Com minha força, perante a odiosa morte que próxima espreita.

Péricles Alves de Oliveira

Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)
Enviado por Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent) em 03/04/2011
Reeditado em 01/02/2012
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