Desfantasia

No meu canto assim me acho

A tecer mil fantasias

São com elas que despacho

Coisas dos tédios dos dias.

Nos versos, teço riachos

Livres a correrem pelas pinhas

Uvas maduras nos cachos

Nos corredores das vinhas.

A minha alma menina

Não se contém do encanto

Brinca com a viperina

Realidade de espanto.

Que me importa que a maldade

Domine o mundo lá fora?

No meu sonho é a bondade

Que com certeza vigora.

É claro que a gente chora

Ver a dor grassar a vida

E aos céus a gente implora

Numa prece comovida

Socorro, felicidade

Um milagre que nos guarde

De tamanha crueldade

Numa atitude covarde.

Mas depois na retaguarda

Criamos mundo perfeito

Numa imagem que não tarda

Pela dor, será desfeito.

Talvez a sofrer, afeitos

Ou mesmo na indiferença

Fiquemos mamando aos peitos

De alguma jeitosa crença.

Naúsea no fim, me engole

É demais a indiferença.

A verdade me demole

Sempre me engole a descrença!

Desfantasia derruba

Meus castelos de algodão

Uma tristeza me encuba

Vejo o céu caido ao chão.

ANA MARIA GAZZANEO
Enviado por ANA MARIA GAZZANEO em 01/04/2011
Reeditado em 01/04/2011
Código do texto: T2883036