Desfantasia
No meu canto assim me acho
A tecer mil fantasias
São com elas que despacho
Coisas dos tédios dos dias.
Nos versos, teço riachos
Livres a correrem pelas pinhas
Uvas maduras nos cachos
Nos corredores das vinhas.
A minha alma menina
Não se contém do encanto
Brinca com a viperina
Realidade de espanto.
Que me importa que a maldade
Domine o mundo lá fora?
No meu sonho é a bondade
Que com certeza vigora.
É claro que a gente chora
Ver a dor grassar a vida
E aos céus a gente implora
Numa prece comovida
Socorro, felicidade
Um milagre que nos guarde
De tamanha crueldade
Numa atitude covarde.
Mas depois na retaguarda
Criamos mundo perfeito
Numa imagem que não tarda
Pela dor, será desfeito.
Talvez a sofrer, afeitos
Ou mesmo na indiferença
Fiquemos mamando aos peitos
De alguma jeitosa crença.
Naúsea no fim, me engole
É demais a indiferença.
A verdade me demole
Sempre me engole a descrença!
Desfantasia derruba
Meus castelos de algodão
Uma tristeza me encuba
Vejo o céu caido ao chão.