POEMA DE GAVETA
Aqui,
Bem aqui
É a minha gaveta
Um fundo de caverna
Escuro
Onde rebrilha um lampião
Embalado nos braços
Da esperança
Luz d'uma meta
Que se intromete
Na fresta da mente
A tresler-me em rota incerta
Aqui me guardo
Das vistas circunscritas
Às circunstâncias
Estritas a mim
Que decanto,
Que descanso...
Aqui me esqueço dos olhos
Que lêem com desconforto
As páginas dos atos lá de fora
Aqui,
Os olhos negros só percebem
Quão é válida
Cada pequena pincelada
Colorada no branco do nada...
Aqui ignoro que
Há alguém que se lembra
Que quer esquecer
Que me guardou
Badulaque senil, nesse canto...
Aqui, nessa gaveta taciturna
Sou sempre um novo poema
De amor e encanto
Ao calor dos dilemas
Dos dezessete anos