ILUSÃO QUÂNTICA

O fiel espelho agora me esconde o mundo mágico,
Em que tantas vezes fiz morada em frágeis alicerces,
Junto a efêmeros amores, tantos e com tal intensidade,
Que incendiavam meu corpo e emudeciam meu espírito.

Como esquecer os breves momentos lá vividos,
Os sons harmoniosos que se misturavam à minha voz,
E os cheiros almiscarados e incensados das lindas donzelas,
Os quais se foram como folhas a rolarem com a força do vento?

O quântico ocaso que fez surgir o dia, agora o toma de volta,
Deixando-me, por um lapso, o pesado fardo da saudade.
Dentre pouco, nem lembranças haverá de uma vida breve,
Onde a carne se apodrece no corpo andante e decadente.

O calor de outrora deu lugar a um tênue frio branco.
A manhã se foi e a tarde está chegando ao fim,
Num profundo silêncio, que se assenta ao horizonte,
Trazendo a dor da existência macabramente ilusória.

Na parede vazia da incerteza e da descrença em tudo
Assenta-se o relógio da vida, silencioso e ligeiro,
Empurrando-me aos braços da noite iminente,
Na qual, o tênue frio branco se torna negro e insuportável.

E, após meu corpo passar, minha alma, sem sorrir ou chorar,
Fincará na negra, fria e fúnebre noite sua morada eterna,
Onde não mais haverá cores, nem sons, nem cheiros, nem rostos,
Nem os amores que outrora extasiavam meu ser.

Péricles Alves de Oliveira

Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)
Enviado por Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent) em 29/03/2011
Reeditado em 01/02/2012
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