ILUSÃO QUÂNTICA
O fiel espelho agora me esconde o mundo mágico,
Em que tantas vezes fiz morada em frágeis alicerces,
Junto a efêmeros amores, tantos e com tal intensidade,
Que incendiavam meu corpo e emudeciam meu espírito.
Como esquecer os breves momentos lá vividos,
Os sons harmoniosos que se misturavam à minha voz,
E os cheiros almiscarados e incensados das lindas donzelas,
Os quais se foram como folhas a rolarem com a força do vento?
O quântico ocaso que fez surgir o dia, agora o toma de volta,
Deixando-me, por um lapso, o pesado fardo da saudade.
Dentre pouco, nem lembranças haverá de uma vida breve,
Onde a carne se apodrece no corpo andante e decadente.
O calor de outrora deu lugar a um tênue frio branco.
A manhã se foi e a tarde está chegando ao fim,
Num profundo silêncio, que se assenta ao horizonte,
Trazendo a dor da existência macabramente ilusória.
Na parede vazia da incerteza e da descrença em tudo
Assenta-se o relógio da vida, silencioso e ligeiro,
Empurrando-me aos braços da noite iminente,
Na qual, o tênue frio branco se torna negro e insuportável.
E, após meu corpo passar, minha alma, sem sorrir ou chorar,
Fincará na negra, fria e fúnebre noite sua morada eterna,
Onde não mais haverá cores, nem sons, nem cheiros, nem rostos,
Nem os amores que outrora extasiavam meu ser.
Péricles Alves de Oliveira