HOMEM - SER IMPERFEITO
Num frio intenso, apresenta-se o tempo lá fora,
Em meio à fina chuva. Lamento de alguém que chora
Lágrimas fantasmas da mente insana, atormentada,
No mísero invólucro carnal, prisão indigna de anseios loucos.
Loucos, todos ensandecidos. Construtores de tolas ilusões,
No sopro breve de um sonho impossível – mentes que não respiram.
Buscas vãs de significado para o que chamam vida, e vidas tirando
Do corpo do qual fazem parte – automutilação em canibalismo.
O astro-rei se foi. Resta o lamento nebuloso de negras nuvens.
Mas não se preocupem, verão e sentirão, em um novo amanhecer,
Tocar na pele os raios idolatrados, que dão a vida ao corpo-invólucro,
Ao corpo pífio e decadente, em ampulheta que não para, rumo à escuridão final.
O que não verão, nem sentirão, é a dor suprema provocada pela razão humana.
Pseudoitelectuais engravatados, com seus títulos insignificativos diante do imenso,
Com mulheres em admiração de fracas mentes, mais pobres ainda que doutros.
O cheiro do poder ansiado pelo homem, em seus perfumes vários, é podre.
Falharam os pensadores, de Platão a Shopenhauer em suas loucas visões.
Falharam os cientistas, de Pitágoras a Einstein, com suas modelações.
A saída, em mentes intranquilas ansiadas, não existe, senão o ponto-fim.
Mas qual o final do filme? Em capítulos inacabáveis, todos querem saber.
Medíocres! Medíocres todos! Comem do pão divino que não entendem,
E se embebedam do vinho divino sem ao menos o saber, em grande mácula.
Onde estão os pássaros agora? Devem entender mais do que todos nós.
Onde estão as estrelas agora? Vida e morte representados em energia.
Talvez fujam do nosso olhar infame, desonroso, leviano e destrutivo.
Homem, centro de nada. Homem, filho de nada. Homem, mísero, tal qual
Micróbios a comer do sangue onde vivem, tresloucados de fome indigesta.
Homem-razão destruidor, modulador e rotulador. Loucos insanos!
Eu, mais louco de todos, que versos disparo à minha própria insanidade.
Mais louco eu por ver a insignificância do leão devorador – oferta em altar.
E esses versos também tresloucados, lidos pelos ensandecidos, só não se tornarão
Mais desvairados, nebulosos e negligentes que a alma infame do homem.
Péricles Alves de Oliveira