A PARTIDA
Quando pensava em pegar o trem
E partir, sem destino, mundo afora,
Aproxima-se-me uma bela jovem
De traços moderados e trejeitos extremamente femininos.
Convida-me a ficar com um sorriso que encantaria
Até o mais turrão dos homens.
Surpreendido, fico a pensar o que fazer,
Que em pouco vem o trem que partirá para longe.
Não estou eu a ir-me desta pequenina cidade
Procurar, noutra parte, um pouco mais que se dê
Em troca de meu honesto trabalho
Exatamente para, em dia que me enamorar,
Ter contentamento maior em fazê-lo?
O que faria eu aqui senão ir à lavra,
Lidar com bois, vacas, porcos e acabar-se
Na dura lida desta vida?
Mesmo a bela jovem acabaria a se transformar
Mais numa cousa em meio a tamanha tumultança.
Somente alguns poucos minutos me restam.
Olho bem a jovem que se apresenta à minha frente...
Cabelos cheios e negros como os olhos que brilham a observar,
O corpo perfeito mostra-se insinuante pelo apertado vestido que o comprime.
A razão diz-me: “Vai, não fiques com a mulher.
Terás vida melhor longe daqui, esquece esta miudança de cidade,
Qual nada tem a oferecer, some-te daqui.
Mulheres belas há em toda parte.”
O sentimento me diz: “Acharás, acaso, jovem mais bela que esta
A se oferecer a ti sem nada pedir em troca a não ser que fiques?
Com esta mulher, acharás bom grado neste lugar,
Tal qual poderia achar em qualquer outro.”
O assobio do trem antecede sua chegada.
Olho para a jovem que me puxa como ímã.
Penso: “Não sou poeta, tenho decisão a tomar...”
O trem para e se anuncia o embarque.
Apenas olho para aquela bela jovem,
Agora desiludida,
Entro no trem e vou-me embora.