Tsunami

Às vezes acordamos sem saber onde estamos
Ao redor do corpo uma sombra nos acompanha
Sem falar, sem sorrir, casmurro, ouvimos os reclamos
Que por dentro de nós se esparge e se entranha
Dispersos, olhamos para o teto, um veto à vida
Mas por que continuamos e corroemo-nos em ferida?

Transmutação de um ser em ser da vida
Idas e vindas sem querer, só para cumprir
Esculpir as cinzas, as chagas já apodrecidas
A esperança transforma o desespero em porvir
São coisas que não se explicam; que ficam
Que rodam em torno de sonhos, mas olvidam...

O sentimento é morto por natureza; tristeza...
Sempre se morre ou se nasce morto, natimorto
Por mais que se anime, não se passa a incerteza...
No cais dourado tem ouro virgem; no porto
O morto apavorado se alevanta e corre sem tino...
A bossa nova é a burguesia; ser boçal é ser divino!

De que adianta exortar o medo, tão cedo...?
Amamentarmos os vastos plantios de milho
Depois comermos sucrilho e pão; em segredo...
Se sofremos pela inépcia ou covardia de um filho,
Às vezes acordamos mudos e sem destino...
Por que sofrermos, quando chora um menino!?

Quantas horas nós passamos lamentando o que é morte certa!
A rua está deserta, e o outro mundo nos convida eternamente...
Somos carne, espírito e alguém que ignora a porta aberta
Se o medo toma-nos, busquemos certeza no inconsciente!
A hora é essa, minha gente! Chorem, gritem e pensem, é o tsunami!
Não brigue por terra, ela não é sua! Ela é daquele que não tem nome
Ubirajara Sá
Enviado por Ubirajara Sá em 26/03/2011
Reeditado em 17/10/2011
Código do texto: T2872279
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