Fim da Batalha

A batalha acabou

O sangue em minha espada começa a secar

E os soldados comemoram o retorno para casa

Eu, contudo, não consigo sorrir

Lutei a minha vida inteira

E não conheço o conceito de paz

Acha que conseguirei largar minha espada

E acreditar que nunca mais precisarei odiar ninguém?

Acha que confiarei nos inimigos que se renderam

E não verei segundas intenções em seu olhar?

O que os ingênuos entendem como felicidade

Para mim é ilusão

E vivi bastante para saber

Que as manchas de sangue em minhas mãos

Não se apagarão com o tempo

Não importa o quanto eu viva

A batalha acabou

Mas meus demônios interiores

Continuam digladiando entre si

Todos fortes o bastante para manter-se de pé

Todos fracos demais para vencerem de uma vez

E a paz me é tão anormal

Que é como se houvesse alguma coisa errada

O que é essa sensação que me arranha a garganta

Ansiando por sangue?

O que é esse peso em minhas mãos

Que permanece mesmo quando solto a espada?

O que é essa dor de cabeça

Como se eu ainda ouvisse os gritos no campo de batalha?

O que é esse rosto seco

Quando tudo o que eu deveria fazer é chorar?

O que é esse corpo

Que é qualquer coisa menos humano?

Foi a guerra que me tornou assim

Ou isso é só uma frase sem sentido

Que procura me eximir da culpa?

O fim da guerra é quase tão cruel quanto ela própria

Pois é quando ela termina

Que a paz nos obriga a pensar no que fizemos

Quando não tínhamos tempo para pensar

Quando viver significava matar

De que adianta estar vivo

Se sinto como se não tivesse mais alma?

Iludi-me achando que com esse derramamento de sangue

Seria capaz de proteger alguém

Ou foi o mundo que mudou

E me deixou para trás?

Ainda valeria a pena empunhar a espada

Ou os inimigos realmente acabaram?

Não sei se conseguiria

Mas posso realmente descansar?

A batalha acabou

Mas o mais difícil

É continuar vivendo