QUEM?
Hoje eu levantei com essa sensação estranha
Essa sensação de que eu preciso ser salvo
Eu rejeito a necessidade da redenção
Não me sinto culpado pela vida que vivo
E nem pelas escolhas que faço
Rejeito a moral como se conhece
Vomito as ideologias nas quais nos esvaímos
Não visto uma pessoa pra cada situação
Eu sou esse que o espelho às vezes rejeita
Eu sou esse que o mundo abortou
Eu despertei muito cedo, e acho que foi tarde
Desaprendi a aceitar sem verificar
Não sei se me tornei menos crédulo ou mais frio
Abandonei o paraíso, me despedi das desculpas
Forjei um elo secreto com minhas dúvidas
Eu prometi que só iria chorar quando ninguém pudesse ver
Quando ninguém pudesse estender a mim palavras inúteis
Rejeitei os abraços dessa gente que se banha na lama das idéias
No fundo eu dei as mãos à solidão e fomos andando por aí
Eu errei quando achei acertar, quando pensei saber das coisas
Caí várias vezes em mim mesmo, com o peso desse amor morto
Até mesmo no amor eu desacredito, não o sabemos, não sentimos
Eu vi amigos virarem as costas sem um único adeus decente
Vi amores de uma vida toda transformarem-se em passageiros devaneios
Eu devo ter decepcionado muito pra precisar ter tanta decepção
Eu só posso olhar pra dentro e acreditar que fiz o meu melhor
Acho que sim, se trata de estar triste e me situar no meio do nada
Eu gostaria de algum sorriso sincero, alguma palavra verdadeira
Eu toco meu violão, sinto a entonação dessas notas distantes
E posso voar tão longe, mas no fim, estou aqui alimentando uma vida “não minha”
Entrego-me ao trabalho, ao trabalho de estruturar minha entrópica vida
Escrevo, componho, crio, produzo, desvendo, invento, transformo
E eu? E essa alma que esta ardendo nesse caminho estranho?
Essa figura que se contorce e não tem um rosto, que morre em vida
Quem vai acalantar esses sonhos febris? Quem?