Eu conto meu conto
Sento-me diversas vezes diante de mim,
sou um livro sedento por olhos,
e lanço-me por entre as páginas,
à procura de outras digitais.
Tenho apenas as palavras e um
desejo voraz de significações alheias.
Sou um livro! É certo que livros não o são somente,
mas abandonados na estante o que hão de mais ser na mente?
Qual indiferença ao seu autor e obra.
Ó Deus, fora infeliz em abrir-me as páginas da história?
Não há quem leia, não há quem conte,
não há quem note,
que este livro de letras miúdas,
capa dura e rusticidade,
embala a alma de uma criança,
e canta soneto de vivacidade.
É um velho livro, sem privacidade!
História de quinhentas Marias.
Mas qual livro em sua agonia,
não torna a Maria, armaria, arsenal de alteridade?
Então eu, autora-texto desta obra que não
sei se por ventura minha,
sou também leitora, que realinha
e resignifica um conto de liberdade!