UM SIMPLES MOMENTO
(é um fio acerado
de astúcia.
minúcia fidúcia
de algoz...)
é condenado e carrasco
tal um crime desnecessário
ludibriasse o cenário
de cada segundo
vário
pelo rastro vasto da finitude
imparida
é anjinho...
é satã...
é o sangue da pele riscada...
é um bom mau-agouro...
é leviatã...
é besouro...
o supra-sumo
d’um simples momento
de vida vivida
é o resumo
que sobeja de todos
os seus
honoríficos significados...
porque fica marcado
a ferro frio e tatuado
no instante seguinte
e no seguinte e seguinte...
...e então
se torna o que não se mais vê:
rasgo de vento,
doce no sal,
licença ao embargo...
amargo
que não está mais ardendo...
alvorece,
entardece,
noitece,
esfacela-se,
estraga...
cai de bêbado
cada momento
a se refazer
no tempo
de um austero beijo
do vácuo
no futuro indevassável
do espaço