CERTO ALGO A VIDA PRESSENTE
D'um peito que não me sente
D'um pé direito apressando
Duas bandas de cordas de gente
Dos pombos a voarem em bando
Aos infestos d'um som de sirene
Trombo com o farol pisca-piscando
De verde para vermelho
(Um amarelo lhe pulsa ao meio)
Arrisco o pilotar inocente
Ao túnel que me vai à frente
Dos olhos que cortam por canos
Dos ouvidos escusos, indolentes
Da testa a maquinar uns planos
Perambulo em quase perene
Outro farol pisca-piscando
De vermelho para verde
(O amarelo recluso ao meio)
Ah, amarelo desligado, dormente
O auto anda, que bem me entende...
Ao sapato que afrouxa os freios
Giram pneus, antes correntes
Cabelos, pêlos, alheios
N'um vento que não se encomende
Mais um farol pisca-piscando
Do verde para o vermelho
(E o amarelo lhe pulsa ao meio)
Nada subsiste: cor, som, cheiro...
Aceito tal calor aumente
Invento uma chama de isqueiro
O amarelo me amarela a mente
(Entrego-me de corpo inteiro)
Enfim o farol pisca-piscando
Do vermelho para o verde
(Recusa-se vir o amarelo. Nem alardeio)
Minha vida flui abestada, quente
Indo, dobrando, parando
De encontro à minha língua silente
Vou. Ignoro a quantas ando
Decerto algo a vida pressente
Que, à frente, virá pisca-piscando,
Entrementes, em meu cerebelo
Desde sempre, um farol decadente
Qual meia-luz do verde ao vermelho
(E um amarelo que pulsa ao meio)