DO FOGO DAS ESTRELAS À MINHA BOCA ALUADA
Madrugada corre solta
Pela fresta da janela
Outrora insone, a cama agora dorme
Quieta, prostrada. Sonha um corpo
Para justificar sua existência
Um resto insolúvel de vida fremindo,
Enfim, se aquieta
Um quinhão inútil de morte,
Gemendo, supõe a si que revive
Engrosso a noite n'um caldo magro
Amargado n'uma ininteligível mágoa
Muito rápido, entorno o ensopado
Curtido n'uma vasilha sideral
Direto do fogo das estrelas
Até a minha boca aluada...
Pode ser que o caldo afogue a sede...
Talvez o calor do céu tatue a pele
Da carne que já carrega as marcas
Dessa vida planetária tamanha...
Se todo o caldo cair
Ainda assim o chão se alimenta mais
Do que os ais do desastrado vertedor
É preciso... é preciso...
Viver a parte da vida que vai doendo
Ao tempo de ir desvivendo essa dor...