Coração nevado

Batem leve, levemente,

Como quem chama por mim ...

Será chuva ? Será gente ?

Gente não é certamente

E a chuva não bate assim ...

É talvez a ventania;

Mas há pouco, há pouquinho,

Nem uma agulha se mexia

Nessa quieta melancolia

Dos pinheiros do meu jardim...

Quem bate assim levemente

Com tão estranha leveza,

Que mal se ouve, mal se sente ?

Não é chuva, nem é gente,

Nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía

Do azul cinzento do céu,

Branca e leve, branca e fria...

Há quanto tempo a não via!

E que saudades, Deus meu!

Olho-a atravez da vidraça.

Pôs tudo da cor do linho,

Passa gente e, quando passa,

Os passos imprime e traça,

Na brancura do caminho ...

Fico olhando esses sinais

Da pobre gente que avança,

E noto, por entre os mais,

Os traços miniaturais

De uns pézinhos de criança ...

E uma infinita tristeza,

Uma funda turbação

Entra em mim, fica em mim presa.

Cai neve na natureza ...

- e cai no meu coração.

Valentina Leemann
Enviado por Valentina Leemann em 22/01/2011
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