O que a vida já me deu.
Não sei se devo assustar ou não,
De já ter andado mais de meio século na vida.
Ainda bem que não contei todos os meus passos,
Senão teria desistido de chegar até aqui.
Se contasse as estrelas que já vi no céu,
Teriam beirado quase ao infinito.
E no meio do caminho, cansado, já teria parado,
Por ter perdido a conta das coisas que já vi.
Se contasse todas as lágrimas que já derramei,
Não saberia mais as que saíram de meus olhos.
Daria um regato enorme para atravessar,
Que já teria me afogado em suas águas.
Mas se fosse os risos que já sorri,
Mataria qualquer manhã outonal de pura inveja.
Soaria mais alto que a mais bela música,
Que qualquer ouvido já possa ter escutado.
Somassem neste instante as dores e sofrimentos,
Que meu coração sucumbiria de tristeza.
Mas se fosse todas as alegrias e prazeres vividos,
Seria o maior felizardo que a terra já viu.
Se escrevesse tudo o que disse,
Com certeza, seria o maior livro do mundo.
Ainda bem que não o fiz com as minhas palavras,
Senão já teria escrito o meu último capítulo.
E se contasse cada uma das batidas do coração,
Certamente, há muito, já teria cansado.
E hoje, não teria mais forças e alento para sentir,
A emoção de viver um novo amor.
Acredito ter vivido até aqui, simplesmente,
Por não ter mensurado nada do que me foi dado.
Pois já teria pensado em não ser digno de merecer,
Tantos dotes que a vida nos dá.
Vieira