Couraça

Corto meu jornal como a quilha corta a onda

Pálpebras não pisco. Atalaia de segundo.

Vejo um mundo de centavos, efêmero, infundo

Resiste e inexiste à verdade que responda.

Tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável...

Nisso pensai!

Couraça que reveste ergue a espada da poesia!

Nutre sincero jardim que floresce no outono,

Castelo de preconceitos que construo desmorono

Domo a fera entorpecida, abatida, arredia.

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"O verdadeiro sábio é aquele que assim se dispõe que os acontecimentos exteriores o alterem minimamente. Para isso precisa couraçar-se cercando-se de realidades mais próximas de si do que os fatos, e através das quais os fatos, alterados para de acordo com elas, lhe chegam."

Trecho de "Livro do desassossego" de Fernando Pessoa