Somos ótimos...

Somos ótimos em causar o terror cotidiano

Em temer na multidão o colidir solitário

Com a derrocada do sonho que humanize

Transformar a ausência em cor

E a luz em escuridão multicor

Não nos esqueçamos

Que num futuro mais que perfeito

Conseguimos premeditar qualquer guerra

Instaurar no silêncio breve um grito eterno

Completar o medo com desesperado infortúnio.

Sucumbimos ao suspiro perante a morte

Sim! Nós tivemos coragem dessa proeza

De vestir a mortalha no estratagema

Levar ao ápice o que era fagulha

Oh! Timidez despudorada do carnífice

Matamos o grande Outro

No momento em que nos amamos na cama

Ferimos nossas emoções invisíveis

Quando nos escondemos do que é superfície

O ininteligível vive louco em cada um

Sublimação temperamental do infame

A infâmia, esta sim lavada no sangue.

Morre a nascença humana

Nasce a essência desumana

E somos cada vez mais ótimos

Em escrever paródias nas tragédias

Fazer historicidade do episódico

Estendendo a crise com paradoxos

Insistimos então triunfantes

Na excelência de pensar, analisar, conhecer

Porque nossas misérias são frutos

Dos usufrutos da nossa pobre soberba

Que ao invés de estar contra essa idiotia

Apóia-nos nas presepadas da existência

Toda essa esperteza em construir desmazelos

É audácia e é descuido propositado

Sabemos fingir o gozo com certa maestria

Contudo, mentir para o outro lado

Onde só se vê um país de espelhos

Certo é que na mais pura verdade

Mal conseguimos sair de dentro de nós mesmos...

Arquiduque de Ignaros
Enviado por Arquiduque de Ignaros em 24/11/2010
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