Somos ótimos...
Somos ótimos em causar o terror cotidiano
Em temer na multidão o colidir solitário
Com a derrocada do sonho que humanize
Transformar a ausência em cor
E a luz em escuridão multicor
Não nos esqueçamos
Que num futuro mais que perfeito
Conseguimos premeditar qualquer guerra
Instaurar no silêncio breve um grito eterno
Completar o medo com desesperado infortúnio.
Sucumbimos ao suspiro perante a morte
Sim! Nós tivemos coragem dessa proeza
De vestir a mortalha no estratagema
Levar ao ápice o que era fagulha
Oh! Timidez despudorada do carnífice
Matamos o grande Outro
No momento em que nos amamos na cama
Ferimos nossas emoções invisíveis
Quando nos escondemos do que é superfície
O ininteligível vive louco em cada um
Sublimação temperamental do infame
A infâmia, esta sim lavada no sangue.
Morre a nascença humana
Nasce a essência desumana
E somos cada vez mais ótimos
Em escrever paródias nas tragédias
Fazer historicidade do episódico
Estendendo a crise com paradoxos
Insistimos então triunfantes
Na excelência de pensar, analisar, conhecer
Porque nossas misérias são frutos
Dos usufrutos da nossa pobre soberba
Que ao invés de estar contra essa idiotia
Apóia-nos nas presepadas da existência
Toda essa esperteza em construir desmazelos
É audácia e é descuido propositado
Sabemos fingir o gozo com certa maestria
Contudo, mentir para o outro lado
Onde só se vê um país de espelhos
Certo é que na mais pura verdade
Mal conseguimos sair de dentro de nós mesmos...