Nossos Medos...

Se há medo de uma morte violenta

Façamos um contrato de serviços

E eu me entrego a ela sem pestanejar

Aos poucos e aos sussurros

Estarei disposto em suaves parcelas

Prometo o desígnio do bem morrer

De me lançar ao amor que consome

Às paixões que definham cada dia

Se há horror numa morte sem aviso

Então eu assino o direito

De ela bater em minha porta

Dias antes para que eu me programe

Avise amigos e parentes sobre a viagem

Talvez a última jornada por entre vivos

Acordarei cedo e olharei os lírios do campo

Hei também de assoviar minhas canções

Tomarei meu café matinal

[como de costume]

Meu banho longo e demorado

Quem sabe eu pule a janela gargalhando

[e fujo]

Até que na esquina a ceifadora decida

Se vai me atropelar com um ônibus

Ou derrubar um piano em minha cabeça

Se há medo

Medo do medo

Medo de sentir medo do medo

Então não assino nenhuma concordata

Extinguir-se da vida não é um projeto

Nem uma lei universal do homem

Viverei no pavor cotidiano

Até que quando menos espere

A fatalidade me surpreenda pelas costas

Certa de que ficarei muito satisfeito

De não ter conhecido o fim das finitudes

Nem ter sido decisivo e arbitrário

Sobre quaisquer de seus meios

Se há um medo que fere profundamente

O espírito da existência de cada ser

Não sei dizer se é o de morrer subitamente

Ou o de amar incondicional e mutuamente...

Arquiduque de Ignaros
Enviado por Arquiduque de Ignaros em 24/11/2010
Reeditado em 24/11/2010
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