Belo e sublime
São seis horas da tarde os homens voltam do trabalho.
O sol que foi escaldante o dia inteiro se prepara
Para adormecer e deixar apenas o crepúsculo.
Acordo depois de quase cinco horas de sono
E não me sinto satisfeito, ainda não recompus
Todas as energias necessárias para escrever um poema.
O chá é a solução. Ponho a chaleira no fogo, esquento
A água. Tomo o chá e é como se estivesse contemplando
A maior e mais bela planície ocidental, a grandeza explicita
Dos vales rochosos de Machu Picchu. O chá eleva a alma,
Eleva ao mais alto grau de virtude que se possa imaginar.
Depois do chá um poema como as senhorinhas simpáticas
Que passam sem pressa para irem comprar o pão fresquinho.
O poema que será a própria “vida viva”, exposta sobre as ancas
De uma falsidade, de um desejo sórdido a tudo que é perspicaz,
De uma benevolência incontrolável ao grosso, ao que não
Complementa, ao que regride e agride imagem.
Essa “vida viva” fora da mente e do imaginário, essa vida simples
Que às vezes me parece apropriado vive-la e outras vezes
Sou forçado pela necessidade de esgotá-la por completo.
O “belo e o sublime” única forma que encontrei para viver
Sem a pobreza da “vida viva” sem arte, sem beleza, sem
Prazer poético, sem agudez nas coisas encantadoras.
Um homem voltado para arte alimenta-se do prazer
de Entender, de conhecer, de manifestar todos
os sentimentos para o que tem uma beleza e uma sublimidade
indefinível. É a arte que me movimenta. É a dor que movimenta a arte em mim.