Caso do ocaso
A minha salvação é que meu querer é volátil
É na inconstância do meu interesse que vou além
Nas reticências do meu desejo respiro o ar inodoro
Paro no espaço entre um ponto e o seguinte e me alivio
Na partitura do meu sonho, entre uma nota e a seguinte,
Um sustenido eleva-me para que não me estenda na monotonia
Cansam-me as malditas bodas que nunca existiram
Não há fatos e nem afeto por mim no caso ausente
Presente é o dia se arrastando pelos instantes desperdiçados
Um ocaso que não se precipita, mas alonga-se irritantemente
Hoje, especialmente hoje, nenhuma grandeza me desperta
Estou numa sonolenta insolência em relação remota a tudo
No momento desisti uma vez daquela inexistente possibilidade
Sabendo-me diante do Senhor da Abstinência, anulo meu voto...
Secreto em mim
Segredo em mim
Sepulto em mim
Um sonho, um singelo e inútil querer do qual desisto... (No momento, no momento...)